quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crônica de uma gremista em dia de aflição

Já que hoje é dia de jogo nosso. Já que a aflição é nossa companheira constante, mesmo na liderança. E já que a chuva cai, mais que aflita, em Florianópolis: vou contar outra história.

Era uma tarde de sábado de 2005. Eu estava em Porto Alegre. Tinha feito prova na UFRGS, de manhã, no Mestrado em Comunicação. Almocei com a amiga Rafaela e sua pequena Valentina. Depois fomos pra Redenção: chimas e conversa. Coisa bem boa.

Mas eu tinha um aperto no peito, apesar de tudo. Aquele seria um dia de provas, definitivamente. Eu sou fraca pra momentos decisivos. Eu finjo não saber o que está acontecendo. Sou boa atriz.

Perto das seis horas, resolvemos voltar pra Cidade Baixa. Eu estava hospedada na casa de um amigo ali, na rua Olavo Bilac. Pegamos a República, depois a Lima e Silva. E era um mar azul. Cada boteco do mais boêmio dos bairros da Capital dos gaúchos refletia azul, branco e preto. E era um misto de pânico e alegria, temor e euforia. Deixei Rafa e Vale em casa, na Joaquim Nabuco.

Segui sozinha. Parei um pouco em cada porta de boteco, espiando a tevê. Agonia. Pênalti.
- Merda! Sou eu, pé frio do c...!

Desatei a correr. Cheguei na Olavo Bilac apavorada. Subi correndo. Meu grande amigo que me hospedava, Carlos Garcia Rizzon, o Carlito, é colorado. Já de manhã tinha me avisado:
- Ó, guria, vou almoçar na minha irmã... E algo do tipo: - Na volta eu enxugo as tuas lágrimas...

Abri a porta esbaforida. Liguei a tevê. Outra explicação: a tevê do Carlito é daquelas antigas, demora a ligar... Fiquei, por alguns momentos, só ouvindo o jogo. Confusão em campo. Que dor no coração. Dia de provas, definitivamente.

Rapidamente tomei uma decisão: - Não vou participar disso! Baixei o som da tevê e fui pro telefone, queria ligar pra rodoviária, ver se tinha passagem ainda naquele dia pra Floripa.

- Catarinense, boa noite -, o moço da rodoviária.
- Oi, boa noite, vem cá, tens passagem pra Floripa ainda?
- Acho que tem só uma ou duas...

Gritaria na rua. A Cidade Baixa tremia.

Eu, em voz alta e para mim mesma, no telefone:
- Puta merda, os colorados comemorando o gol do Náutico.
O moço da rodoviária, no telefone, chorando:
- NÃO, GURIA!! O NOOOOOOOOSSOOOOO GOLEIRO PEGOU!!!
- Peraí -, eu tremia desesperadamente.

Virei pra tevê. Era verdade. Gritaria na rua, de novo.

- GOL NOSSO, GURIA! AGORA DEU, MEU DEUS -, ele gritava.

Eu sentei no chão. Entre choro e risos. Quase não ouvia nada, tamanho barulho na rua. Azul, Porto Alegre era azul, todinha azul naquele momento.

- Viu, eu vou aí retirar a passagem -, eram quase sete e pouco. Viajaria às 23 horas.
- Tu vais mesmo, guria?
- Sim, preciso ir hoje.
- Eu RESERVO pra ti! Vai pra rua curtir a nossa vitória. Qual é o teu nome?
- Adriane.
- Aparece aqui 15 minutos antes e pergunta pelo Carlos!

Então tá. Eu fui pra rua na Cidade Baixa. E vi o mar azul, azul. Olímpico ali pertinho. Monumental, Grêmio. Monumental.

22h30. Chego na rodoviária. Guichê da Catarinense.

- Boa noite, por favor, o Carlos.

Ele estava atendendo o telefone. Olhou pra mim, largou o fone na mesa e abriu os braços:

- Adriane!!!

Amanheci em Floripa, com o mar, bem azul, me acordando.

4 comentários:

Anônimo disse...

gente!!!!! eu não tinha idéia de tanta aventura!!!!!!!!

e é engraçado que me lembro bem desse dia :o)

adorei o texto. me arrepiei!!!
:o)

Anônimo disse...

e nem assinei..

rafa :o)

Rovan disse...

Me arrepiei!!
Era aniversário da Rayana, minha irmã!!
Quanta aflição nos Aflitos!!
O mundo nunca viu uma coisa igual essa!
Foi tipo, o gol do Náutico, hoje contro os colorados!! heheh!!

Daiani Ferrari disse...

Adorei. Naquele dia me arrepiei. Olhava a TV e não acreditava.

Adorei o texto.

Até.