Já que hoje é dia de jogo nosso. Já que a aflição é nossa companheira constante, mesmo na liderança. E já que a chuva cai, mais que aflita, em Florianópolis: vou contar outra história.
Era uma tarde de sábado de 2005. Eu estava em Porto Alegre. Tinha feito prova na UFRGS, de manhã, no Mestrado em Comunicação. Almocei com a amiga Rafaela e sua pequena Valentina. Depois fomos pra Redenção: chimas e conversa. Coisa bem boa.
Mas eu tinha um aperto no peito, apesar de tudo. Aquele seria um dia de provas, definitivamente. Eu sou fraca pra momentos decisivos. Eu finjo não saber o que está acontecendo. Sou boa atriz.
Perto das seis horas, resolvemos voltar pra Cidade Baixa. Eu estava hospedada na casa de um amigo ali, na rua Olavo Bilac. Pegamos a República, depois a Lima e Silva. E era um mar azul. Cada boteco do mais boêmio dos bairros da Capital dos gaúchos refletia azul, branco e preto. E era um misto de pânico e alegria, temor e euforia. Deixei Rafa e Vale em casa, na Joaquim Nabuco.
Segui sozinha. Parei um pouco em cada porta de boteco, espiando a tevê. Agonia. Pênalti.
- Merda! Sou eu, pé frio do c...!
Desatei a correr. Cheguei na Olavo Bilac apavorada. Subi correndo. Meu grande amigo que me hospedava, Carlos Garcia Rizzon, o Carlito, é colorado. Já de manhã tinha me avisado:
- Ó, guria, vou almoçar na minha irmã... E algo do tipo: - Na volta eu enxugo as tuas lágrimas...
Abri a porta esbaforida. Liguei a tevê. Outra explicação: a tevê do Carlito é daquelas antigas, demora a ligar... Fiquei, por alguns momentos, só ouvindo o jogo. Confusão em campo. Que dor no coração. Dia de provas, definitivamente.
Rapidamente tomei uma decisão: - Não vou participar disso! Baixei o som da tevê e fui pro telefone, queria ligar pra rodoviária, ver se tinha passagem ainda naquele dia pra Floripa.
- Catarinense, boa noite -, o moço da rodoviária.
- Oi, boa noite, vem cá, tens passagem pra Floripa ainda?
- Acho que tem só uma ou duas...
Gritaria na rua. A Cidade Baixa tremia.
Eu, em voz alta e para mim mesma, no telefone:
- Puta merda, os colorados comemorando o gol do Náutico.
O moço da rodoviária, no telefone, chorando:
- NÃO, GURIA!! O NOOOOOOOOSSOOOOO GOLEIRO PEGOU!!!
- Peraí -, eu tremia desesperadamente.
Virei pra tevê. Era verdade. Gritaria na rua, de novo.
- GOL NOSSO, GURIA! AGORA DEU, MEU DEUS -, ele gritava.
Eu sentei no chão. Entre choro e risos. Quase não ouvia nada, tamanho barulho na rua. Azul, Porto Alegre era azul, todinha azul naquele momento.
- Viu, eu vou aí retirar a passagem -, eram quase sete e pouco. Viajaria às 23 horas.
- Tu vais mesmo, guria?
- Sim, preciso ir hoje.
- Eu RESERVO pra ti! Vai pra rua curtir a nossa vitória. Qual é o teu nome?
- Adriane.
- Aparece aqui 15 minutos antes e pergunta pelo Carlos!
Então tá. Eu fui pra rua na Cidade Baixa. E vi o mar azul, azul. Olímpico ali pertinho. Monumental, Grêmio. Monumental.
22h30. Chego na rodoviária. Guichê da Catarinense.
- Boa noite, por favor, o Carlos.
Ele estava atendendo o telefone. Olhou pra mim, largou o fone na mesa e abriu os braços:
- Adriane!!!
Amanheci em Floripa, com o mar, bem azul, me acordando.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
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4 comentários:
gente!!!!! eu não tinha idéia de tanta aventura!!!!!!!!
e é engraçado que me lembro bem desse dia :o)
adorei o texto. me arrepiei!!!
:o)
e nem assinei..
rafa :o)
Me arrepiei!!
Era aniversário da Rayana, minha irmã!!
Quanta aflição nos Aflitos!!
O mundo nunca viu uma coisa igual essa!
Foi tipo, o gol do Náutico, hoje contro os colorados!! heheh!!
Adorei. Naquele dia me arrepiei. Olhava a TV e não acreditava.
Adorei o texto.
Até.
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