domingo, 23 de novembro de 2008

Longe demais

Lá pelos 40 do segundo tempo começou a chover. Era só o quer faltava numa tarde em que o Grêmio empatava em zero com o Avaí. Pior do que o empate, era a falta de futebol, a ausência de qualquer semelhança dos caras de camisa tricolor com um time de futebol. Não havia esquema tático, não havia qualidade individual, não havia garra. E mais: o Celso Roth sentadinho no banco, o incrível sobrevivente dos fiascos recentes do Gauchão e da Copa do Brasil.

- Vai ser um ano duro, parceiro.

A frase saiu como um suspiro enquanto eu olhava para o desconhecido torcedor ao lado. Esperava dele uma palavra de consolo. Mas ele não disse nada. Deu de ombros e suspirou profundamente.

Naquele dia seis de março, depois do amistoso humilhante e melancólico, ninguém ousaria adivinhar que aflição dos gremistas em 2008 seria na ponta de cima da tabela, disputando efetivamente o campeonato.

Uma semana depois o Grêmio estreou no Brasileirão vencendo o São Paulo e inaugurou uma campanha de grande aproveitamento. Mais do que surpreendente, pode-se dizer inexplicável. Porque o plantel ganhou pouco em qualidade. Os reforços foram invariavelmente baratos e duvidosos. Com minguados caraminguás no caixa, a direção do Grêmio montou um conjunto “para não cair”. A escolha do técnico evidencia a opção, não precisavam de um vencedor.
Mas o time foi vencendo. Talvez a falta de ambição fosse tão evidente que parece que os adversários não levaram o Grêmio a sério, e o primeiro turno foi um sucesso que fez trepidar a lógica. A diretoria, iludida e maravilhada, manteve a política da pobreza, apostando que os outros fossem mais medíocres. E talvez fossem, mesmo. Só que não é possível enganar o tempo todo. Os limites apareceram e a munição de festim não assustou mais ninguém. O time perdeu terreno para si próprio, para suas próprias insuficiências.

Ao perder vexatoriamente para o Vitória o tricolor sepultou a possibilidade do tri brasileiro. Os investimentos e o futebol não eram para tanto. Provavelmente foi longe demais, conquistando um lugar na Libertadores.

Para quem viu o Grêmio no dia seis de março, o ano foi bom demais.

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