domingo, 12 de julho de 2009

Com a cara do Autuori

O Grêmio que goleou o Corinthians neste domingo tem a cara de Paulo Autuori. Um time organizado, técnico e fleumático como o seu comandante. Sinceramente, não sei se é a cara do Grêmio que eu gosto, mas foi muito eficiente.

O time de Autuori joga com bola no chão, privilegia o passe curto e as jogadas envolventes. Joga pelas pontas de forma organizada, o que faz da bola aérea uma opção aguda, e não uma tentativa desesperada de botar a esfera perto da área, como vinha acontecendo nos últimos tempos. É evidentemente um futebol mais maduro, com mais padrão e melhor nível.

Talvez tenha sido o primeiro jogo que o time jogou com o semblante do seu “professor”. Antes (e justamente nas decisões da Libertadores) o time parecia híbrido, muito amarrado ao jeito anterior. Talvez só a ausência de pressão tenha permitido uma exibição exuberante como a que arrasou o campeão da Copa do Brasil.

Começa a se comprovar uma hipótese que levantei na época da troca de técnico (relembre aqui). Disse que queria para a Libertadores um “técnico metafísico”, que encarnasse a mítica da imortalidade e do Grêmio copeiro, alguém como Renato, por exemplo. Queria um técnico empolgante para jogar a Libertadores com o sangue, com o máximo de raça. Talvez eu estivesse certo. Certamente o técnico “da raça” não seria o adequado para um campeonato longo em que a regularidade faz a diferença. Autuori mostrou que não era o cara para a Libertadores. Mas pode ser o do Brasileirão?

Autuori , treinador refinado nos modos e na tática, é bom para os campeonatos longos, para projetos racionais que dependam de planejamento e possam prescindir do ímpeto necessário nos mata-mata, por exemplo.

Elenco

Outra característica interessante do técnico é a capacidade de usar o elenco disponível. Ele usa mesmo, insiste, valoriza, experimenta, não se rende às primeiras evidências (as vezes traiçoeiras). Sua atuação no tricolor serviu para mostrar que o nosso elenco, se não conta lá com grande qualidade, tem a virtude de ser parelho em seu talento. Não há muita diferença entre titulares e reservas, mantêm-se o padrão de jogo com uns ou outros, como se viu contra o campeão paulista. Se isso é suficiente, é outra história.

Mas daqui uns dias se abre a temível janela de contratações do futebol europeu e talvez alguns punhados de euros desfigurem o elenco atual. Sem dinheiro no caixa para contratar, Autuori vai investir pesado nas categorias de base e já integrou aos profissionais uma molecada reconhecida como promissora. Outras vezes o Grêmio já fez isso e em muitas se deu bem. Talvez para isso seja necessário mesmo um treinador com visão de longo prazo, como é Autuori.

Não vejo sintonia entre a fleuma do treinador e o jeito histórico do tricolor. O futebol do professor parece “bonito demais”, muito parecido com sua fala mansa e indefectivelmente carioca. Mas talvez agora seja o caso. Vamos dar um crédito.


E o coirmão einh? 15 dias atrás era o melhor time do Brasil e “campeão de tudo”. Em duas semanas perdeu a Copa do Brasil, a Recopa e a liderança do Brasileiro. O mundo dá voltas, né?

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