sexta-feira, 21 de maio de 2010

Os nossos limites

Perdemos. Perdemos para o Santos e seu futebol atrevido. Mas sobretudo esbarramos nos nossos limites. Os limites que foram impostos por carências eventuais, jogadores de desempenho discutível e, sobretudo, por um esquema de jogo medíocre. Qualquer um com visão mínima de jogo teria conseguido conter o ímpeto narcisista dos jovens de camisa branca. Bastava perceber que eles desistiram de se fazer ver no miolo do campo para procurar os flancos, onde temos sido fracos nesta temporada. Era só olhar para ver, nos primeiro segundo do tempo final, que os lados do campo eram espaço em que enterrariam nossa classificação.

Mas nosso técnico não enxerga. É tecnicamente míope e constituiu um time com pouco repertório, com poucas jogadas, sem criatividade, sem apuro tático. É fraco o técnico. Não entendeu o que acontecia em campo e com suas intervenções no time só fez piorar as coisas. Tirou um volante preciso e colocou um atacante duvidoso. Atrapalhou-se mais ainda nas outras substituições.

O Grêmio que venceu o Gauchão e que chegou a ameaçar o jovial e reluzente time da Vila Belmiro é uma ilusão. Foi sustentado pela raça, que diga-se de passagem andava ausente. Mas a superação motivacional não é suficiente, como não foi quarta-feira. Queremos o Grêmio raçudo, de alma castelhana, mas queremos futebol também: tática apropriada, desenvoltura técnica, inteligência. Só um bom técnico pode misturar estes ingredientes, mas infelizmente, não é o caso do nosso.

Para dar um exemplo, pergunto qual a noção de contra-ataque do Grêmio? O que vi foi uma correria puxada geralmente pelos laterais que atabalhoadamente atiravam a bola para o meio, quadrada, de bandeja para o desarme. Não é só falta de talento, é falta de orientação, de previsão tática, de esquema de jogo. Não é só porque os guris do Santos são habilidosos que se tornaram fatais nos contra-ataques. É porque as jogadas têm sentido, sempre há alguém posicionado, gerando alternativas. Contra-ataque não é um acaso, é uma jogada prevista, uma alternativa estratégica. Mas só bons técnicos sabem disto.

O Brasileirão é um campeonato difícil, um rallye de regularidade. Não se ganha na raça e se faz por definição um habitat hostil para o tricolor. Para vencê-lo é preciso um plantel bem estruturado – não estamos longe disto – e sobretudo padrão de jogo, repertório tático variado, fluência de fogo. Com ajustes ao que temos se chega a um plantel suficiente, pois não há nada muito superior no país. Mas sem um bom técnico para comandá-lo vai ficar difícil. Silas pode não fazer feio, mas fazer bonito é muito mais.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Orgulho e preocupação

A forma como o Grêmio buscou a virada diante do Santos ontem no Olímpico foi sensacional. Empolga a torcida pela mudança de postura do primeiro para o segundo tempo e pela forma como esta reversão no resultado foi construída. Ontem vimos que o Silas é taticamente capaz de fazer a equipe crescer. Crescer justamente após um equivoco provocado por ele próprio ao iniciar a partida com três zagueiros, visando poupar Rodrigo de levar o terceiro amarelo.

O time peleador, digno de ser chamado de uruguaio por alguns, mostrou que todos neste elenco, eu disse TODOS, tem condições de mostrar que merecem vestir a camisa Tricolor. Em se tratando de raça e de força de vontade não tenho dúvidas quanto a isso.

Porém a virada esconde alguns problemas que são típicos do futebol e não são exclusivos do Grêmio, entretanto preocupam para a partida de volta. O posicionamento do setor defensivo é falho. O primeiro gol dos santistas mostrou, que por mais que se fale em marcar o jogador e não a bola, os atletas insistem em fazer o contrário. Felizmente isto é plenamente corrigível. E que assim seja para a partida da Vila Belmiro.

Mas o que mais me deixa de cabelos em pé são os erros de passe. E quantos erros. Adilson é quem mais se destaca negativamente neste fundamento. Exímio marcador, peca demais quando entrega a bola. Outro que insiste em se atrabalhar com a redonda é Hugo. Não me refiro a passes longos. Erram passes de 1 metro. E dão ao adversário a possibilidade de contra-atacar. Diante de uma equipe veloz como o Santos, erros assim podem ser fatais.

Para a partida da próxima semana não crio qualquer ilusão. A tarefa do Tricolor é por demais espinhosa. Mas como já vi esse time fazer tanta coisa só me resta acreditar. Se, tecnicamente, as coisas não saem do jeito que imaginamos, pelo menos a raça, marca registrada dessa equipe, parece estar de volta. Felizmente podemos sim sair orgulhosos por ai, com o peito estufado e dizer: Eu sou do Grêmio senhor!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um título para eles

Charge do Sinovaldo, do jornal NH.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Feliz com o Gauchão e pensando mais longe.

Foto de Sônia Vill.

As vezes jogar com o regulamento sob o braço é a única alternativa. Ontem, na final do Gauchão, não era o caso. Não quero ofuscar a beleza do título nem a alegria de deixar o co-irmão acachapado mais uma vez. É pelo campeonato regional que se começa um ano gordo, de grandes conquistas. Mas o Grêmio poderia ter jogado mais, feito escore, colorido ainda mais a festa da superioridade indiscutível.

O que me preocupa neste nosso time é que não vejo nele a “alma castelhana”, o DNA raçudo que marca a história do Imortal. No derradeiro jogo do campeonato vi um time administrativo, quase burocrático. Nenhuma grande dividida, nenhuma grande vitória pessoal obtida no suor. É tudo muito certinho, bonitinho, limpinho. Cadê o suor, a raça, a obstinação, o “não tem bola perdida”?

Temos um plantel respeitável. Jogadores de muita técnica e bom toque de bola. Se a esse talento agregarmos raça e uma injeção da tradição tricolor, aí sim teremos um baita time. Jogar com o regulamento é para quando não há outra alternativa, aí a gente se segura no sangue, na superação. Mas ontem sobrava técnica para amassar o co-irmão. Então creio que o “regulamento” não foi uma opção, mas uma contingência para suprir uma carência tática.

Não vi no time um repertório de jogadas, um plano estratégico que potencialize os talentos que temos. Fica tudo muito voluntarioso, dependente da estrela de um ou outro. Em outras palavras, falta uma personalidade técnica, um padrão de jogo, um conceito de time. Ou melhor, um conceito mais estruturado.

Silas disse após a conquista que fez um vôo sem escalas de um time pequeno para um muito grande. Concordo com ele. Autocriticamente ele admite que não tem ainda estatura para treinar um clube como o Grêmio. Falta-lhe experiência, ambição e conhecimento. Por isso opta por uma relação estreita com os jogadores, fazendo do plantel uma confraria de boleiros bem remunerados. Até quando isso vai dar certo dentro de campo?

Não quero jogar pedra no Silas, nem ser pessimista. Mas para ir mais longe precisamos de um treinador mais competitivo, com alma castelhana. Claro que Felipão é o sonho impossível, mas algum Mano Menezes já me deixaria bem feliz.